A Justiça Global, a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) enviaram nessa sexta-feira (11) um informe à ONU (Organizações das Nações Unidas) e à OEA (Organização dos Estados Americanos) denunciando a prisão injustificada do Cacique Crídio Medina e solicitam a investigação ir das violações dos agentes do Estado responsáveis pelas arbitrariedades e que sejam garantidos os direitos do povo Avá-Guarani.
Crídio Medina pertence ao povo indígena Avá-Guarani, da Tekoha Guasu Guavirá, aldeia Ywyraty Porã, localizada no município de Terra Roxa, no Paraná. Foi preso por um suposto furto de milho. De acordo com os depoimentos, as crianças da aldeia teriam ido até uma fazenda vizinha e recolhido algumas espigas de milho que haviam sobrado no solo. Ao vê-las com as espigas, o fazendeiro chamou a polícia e acusou o Cacique de acobertar o “crime”. Crídio atribui a sua prisão a um processo de intimidação para que os indígenas abandonem a terra.
O documento ressalta também que prisão injustificada do Cacique Crídio e ação da polícia na Terra Indígena, em tempos de pandemia, expôs os Guaranis à contaminação. O acesso à comunidade está restrito por causa da Covid e mesmo assim, os policiais entraram sem autorização, vasculhando as casas e ao levarem o Cacique para prestar depoimento mantiveram-no preso. Além do informe enviado à ONU e à OEA, o Cimi-Sul solicitou que o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público Estadual (MPE) intervenham e investiguem a ocorrência de racismo e de abuso de autoridade em relação a prisão do cacique.
Indígenas vêm sofrendo por causa da não demarcação do seu território e não reconhecimento dos seus direitos
Em muitas outras vezes, os indígenas tiveram seus direitos fundamentais violados. O documento relembra algumas delas: Em 2018, cinco Guaranis do Tekoha Mokoi Joegua, no município de Santa Helena, foram presos pelo corte de bambu que seria utilizado num ritual religioso. Em maio deste ano, pessoas armadas efetuaram quatro disparos contra a comunidade Yhovy, na Tekoha Guasu Guavirá, a mesma de Clídio. Os Avá-Guarani também têm denunciado reiteradamente casos de atropelamento propositais de que foram vítimas.
Outro exemplo é o que tem acontecido com o cacique da Tajy Poty. Ele está sendo ameaçado de morte e recebeu um recado que um fazendeiro que estaria esperando-o engordar mais um pouco para depois matá-lo. No oeste do Paraná são 24 tekoha composto por um total de 4200 pessoas. Desde outubro de 2019 até o momento são 03 assassinatos, 01 atropelamento (suspeita de assassinato), 04 tentativas de assassinato, 02 suicídios e diversas tentativas, 01 Invasão de terra no tekoha Itamarã.
>>> Leia o informe enviado à ONU aqui e à CIDH/OEA aqui.
Foto de capa: Mobilização Nacional Indígena/ Marcha do ATL 2018, Brasília.