Sete bairros da zona oeste ficaram sitiados e 35 ônibus foram incendiados nesta segunda-feira, após morte de um paramilitar em confronto com a polícia civil.
Embora o ataque orquestrado por milicianos, que deixou um rastro de caos e destruição na vida de moradores da zona oeste do Rio de Janeiro, já seja considerada uma das maiores ofensivas do crime organizado vista na cidade, a situação não pode ser percebida com ares de surpresa.
Pesquisas demonstram que a presença da milícia no estado do Rio aumentou de forma significativa nos últimos 16 anos, até mesmo em territórios que anteriormente tinham influência de outros grupos do crime organizado.
A chama que se alastrou pela Zona Oeste nesta segunda-feira (23) depois que 35 ônibus e um trem foram incendiados, não representa apenas um recorde de violência na história da cidade, mas demonstra, para o mundo todo ver, como o domínio da milícia no estado do Rio de Janeiro, que segundo dados do Instituto Fogo Cruzado cresceu 387%, não é uma história da carochinha narrada por quem defende direitos humanos.
Não é de hoje que o Rio de Janeiro virou uma espécie de república das milícias. Atualmente, elas ocupam 49,9% da área territorial do Grande Rio – superando o tráfico de drogas. Exercem um controle nefasto dos territórios e corpos através da cobrança de taxas de segurança, exploração do transporte alternativo, controle sobre a venda de botijões de gás, comercialização de sinal pirata de TVs por assinatura e internet, domínio do mercado imobiliário, entre outras formas de obter vantagens políticas, econômicas e sociais. Violando sistematicamente os direitos humanos de quem reside nessas áreas.
Além disso, outra ironia é que os ataques ocorreram enquanto o governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, enchia os pulmões para parabenizar a polícia pela operação que matou um dos chefes da milícia e, consequentemente, também causou um caos no sistema de transporte e deixou parte da população em pânico. Em postagem no X (ex-Twitter), Castro chegou a declarar “O crime organizado que não ouse desafiar o poder do Estado”.
Governador, as milícias – que nasceram das entranhas das forças militares e policiais do Rio – não só desafiam o Estado há anos, mas também infernizam a vida de moradores de territórios dominados por elas. Na zona oeste, os tiroteios aumentaram 54% em relação a 2022 e, as mortes, 123%, segundo dados do Fogo Cruzado. Em meio ao caos, o seu governo continua fazendo o teatro diante das câmeras e entrevistas coletivas que o questionam sobre a existência de um plano efetivo de segurança que combata o espraiamento destes grupos no Rio de Janeiro.