A Justiça Global participa do Intercâmbios Latinos, uma iniciativa da Aurora, organização que atua nos campos do jornalismo e da educação em direitos humanos, com foco na América Latina, em parceria com o Coletivo Papo Reto que nesta edição acontece em El Salvador, país da América Central com 6 milhões de habitantes e com um contexto social bem similar ao brasileiro. O convite foi para participar do 9° Fórum Centro-Americano de Jornalismo e de uma série de agendas com a sociedade civil salvadorenha. Além das organizações já citadas, compõem o grupo Favela em Pauta, Nós, Mulheres da Periferia, Alma Preta e Agência ÉNois, Marco Zero Conteúdo e Coletivo Nigéria.
No primeiro dia, conhecemos Os Comandos de Salvamento, organização humanitária, fundada em 1960, que atua em contextos de conflitos armados e desastres naturais. A sua missão é resgatar vidas. Além de humanitário, o trabalho é voluntário, são cerca de 3500 pessoas atuando em 30 secções pelo país.
El Salvador é aqui
Em 2015, a polícia salvadorenha desbancou a brasileira e ganhou o triste título da mais letal do mundo. Roberto Cruz, diretor executivo da organização, conta que, na época, El Savaldor tinha uma média 25 a 30 assassinatos por dia decorrentes de conflitos armados. Um número alarmante para um país que tem a mesma população da cidade do Rio de Janeiro. “Nem nos anos de guerra civil se matava tanta gente”, lembrou.
Além da brutalidade policial, os casos de violência estão relacionados à atuação das maras e pandillas, gang’s que atuam no país. Uma das histórias que remonta a formação desses grupos está ligado ao período recente da história de El Salvador. Entre 1980 e 1992 milhares de pessoas migraram para os Estados Unidos em decorrência da guerra civil, com o fim do conflito muitos salvadorenhos foram deportados, inclusive membros de gang’s americanas que acharam um solo fértil numa El Salvador desestruturada no pós-guerra, sem emprego e sem políticas públicas e de assistência. Segundo o fotógrafo Francisco Campos, que também participou do encontro e já atuou como voluntário em Os Comandos de Salvamento, “o fim da guerra civil não trouxe justiça social para os pobres”.
Aqui, como no Brasil, as questões sociais são lidadas como questões de segurança pública. O Estado reprime com mão de ferro a atuação dessas gang’s, retroalimentando a violência e criminalizando áreas inteiras. Daí os altos índices de letalidade policial, desaparecimentos forçados e encarceramento. Em 2017, a ONU visitou prisão em El Salvador que operava com mais de 900% de sua capacidade. Quem mais sofre com essa política de repressão violenta são os jovens que vivem nas periferias e constantemente taxados de pandilleros por causa das suas roupas, penteados e até sapatos. Chegamos a ouvir que “ser jovem é como um delito” aqui, por isso, a única alternativa para juventude salvadorenha é migrar.
Roberto Cruz ressalta que por esses motivos a independência e a neutralidade são fundamentais pra o desenvolvimento do trabalho do Comandos de Salvamento.
Para conhecer mais sobre a atuação da organização, acesse: https://salvamento.org/