Hoje (21), às 14h30 (horário de Brasília), na sala de conferências do Center for International Environmental Law, na sede da organização Amazon Watch, em Washington DC, capital dos Estados Unidos, será lançada a versão em inglês do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2014, publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O objetivo deste evento é denunciar o grave aumento da violência e das violações de direitos dos indígenas em todo o país e, em especial, a situação de extrema barbárie e crise humanitária que o povo Guarani-Kaiowá enfrenta no Mato Grosso do Sul. Além da presença de Eliseu Lopes, liderança do povo Guarani-Kaiowá, Lindomar Ferreira, liderança do povo Terena, e Cleber Buzatto, secretário executivo do Cimi, também estarão presentes indígenas equatorianos, que darão testemunhos da situação no Equador.
Apenas em 2014 o Relatório registrou 138 casos de assassinatos e 135 casos de suicídios, sendo que destes 41 assassinatos e 48 suicídios aconteceram no Mato Grosso do Sul. Os dados também revelam um severo aumento das mortes por desassistência à saúde, mortalidade na infância, invasões possessórias e exploração ilegal de recursos naturais e de omissão e morosidade na regularização das terras indígenas.
No mês passado, em sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, na Suíça, Eliseu afirmou que o seu povo está cansado de esperar e que já não consegue mais acreditar na vontade do Estado brasileiro de resolver efetiva e definitivamente a cruel situação vivida por eles.
Segundo ele, é importante mostrar ao mundo a realidade de como os povos indígenas são tratados no Brasil. “Meu povo está morrendo, está sofrendo, todos os dias, ataques e massacres… mas o governo brasileiro não apresenta nenhuma solução. É porque a demarcação das nossas terras foi paralisada que a violência, o estupro e a tortura feita por capangas e pistoleiros da região aumentam. O governo defende o interesse das grandes empresas e dos grandes fazendeiros da cana, eucalipto, soja, milho e do gado. Eles lucram muito, enquanto nós estamos morrendo”, declarou ele.
Conflitos iminentes
Ontem (20) mesmo, o Batalhão de Choque da Polícia Militar chegou ao município de Antônio João, na fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai, com o objetivo de cumprir ordem de despejo do tekoha (lugar onde se é) Ñanderu Marangatu. O despejo foi ordenado pelo presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), desembargador Fábio Prieto de Souza, que negou o pedido da Fundação Nacional do Índio (Funai). O conflito entre militares e o povo Guarani-Kaiowá era iminente. Ontem à noite, o Supremo Tribunal Federal (STF) cancelou a reintegração de posse conforme a Suspensão de Liminar no 926. No entanto, a comunidade do tekoha Guaiviry continua ameaçada por uma ordem de despejo que pode ser efetuado a qualquer momento.
Denúncia internacional
Na tarde de ontem (20), Eliseu Lopes, Lindomar Terena e Cleber Buzatto participaram de uma audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), sobre o aumento da violência e das severas violações de direitos dos povos indígenas. Dentre outras, foram denunciadas a paralisação na demarcação das terras indígenas e a formação de milícias armadas, organizadas por fazendeiros, para atacar comunidades, em todo país.
Na ocasião, eles aproveitaram a oportunidade para divulgar a campanha pelo boicote à importação de produtos agrícolas oriundos do estado do Mato Grosso do Sul que são produzidos em terras tradicionais indígenas.
Com 45 mil pessoas, os Guarani-Kaiowá são a 2ª maior população indígena do Brasil e ocupam apenas 30 mil hectares de suas terras tradicionais. De acordo com dados do governo federal, se todas as áreas reivindicadas por eles como territórios indígenas forem demarcadas elas representam cerca de apenas 2% da área total do estado. Por outro lado, o Mato Grosso do Sul tem 23 milhões de bovinos, que ocupam 23 milhões de hectares de terra.
Acesse aqui a versão em português do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados 2014
Acesse aqui as declarações de Cleber Buzatto, Eliseu Lopes Guarani-Kaiowá e Lindomar Terena na audiência da CIDH/OEA