Johnatha de Oliveira de Lima foi assassinado aos 19 anos por um policial da UPP Manguinhos, na Zona Norte do Rio, em 2014. Movimento Mães de Manguinhos realiza manifestação para destacar a importância do caso.
Por Monique Cruz* e Ana Paula Oliveira**.
Na próxima terça-feira (5/3), a partir das 12h, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro começa o júri do caso do homicídio do jovem negro Johnatha de Oliveira Lima. Na mesma data, às 09h30, haverá um ato chamado pelo Movimento Mães de Manguinhos como forma de comunicar, mais uma vez, a gravidade do caso e a importância do julgamento. Ana Paula de Oliveira, Mãe de Johnatha, e co-fundadora do Movimento, é uma das principais articuladoras da manifestação, que já conta com o apoio de diversos movimentos e organizações sociais, entre elas a Justiça Global.
Johnatha foi assassinado aos 19 anos com um tiro nas costas no dia 14 de maio de 2014. Segundo as investigações, o tiro foi disparado por Alessandro Marcelino de Souza, policial militar, na época lotado na Unidade de Polícia Pacificadora de Manguinhos, favela da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, onde Johnatha cresceu.
As testemunhas do caso contam que naquele dia “desde cedo, focos de confusão” se espalharam pela favela provocados pela brutalidade das abordagens policiais contra moradores que passaram a revidar as violências atirando garrafas e latas contra um grupo de policiais no qual estava o policial, que respondeu às garrafas e latas com tiros, dos quais um acertou Johnatha que havia deixado a namorada em casa e estava a caminho da casa da avó, na mesma favela.
Manguinhos é conhecida por estar próxima às principais vias da cidade: Av. Brasil, Av. Dom Helder Câmara, Av. dos Democráticos e Linha Amarela. A favela é um lugar de pessoas trabalhadoras, que foram viver ali para acessar postos de trabalho no início do século XX. Uma maioria de pessoas negras, que vive e sobrevive frente à violência do Estado, que mata de tiro, mas que também mata no sofrimento gerado pelas enchentes históricas que acontecem todos os anos, e que também gerou mortes com as remoções impostas por políticas públicas implementadas de maneira seletiva e sem participação social.
Assim como outras favelas da região, é um lugar precarizado, violentado, com questões graves de saneamento básico, onde há altos índices de tuberculose, desemprego e que sofre com intervenções do Estado no campo da segurança pública como toda favela do Rio de Janeiro. Em 2012, foi invadida por forças militares e policiais, com a pirotecnia estatal representada por tanques de guerra da Marinha e do Exército, policiais militares e civis, muitos dos quais pertencentes a forças especiais.
Naquele contexto, a implementação da UPP, no final de 2012, até o assassinato de Johnatha, já amargava dois homicídios cometidos por policiais militares daquela unidade, contra jovens negros. Eles também têm seus nomes e rostos na bandeira das Mães de Manguinhos: Matheus de Oliveira Casé, assassinado aos 16 anos, no dia 20/03/2013; e Paulo Roberto Pinho de Meneses, assassinado aos 18 anos.
Paulo Roberto foi assassinado no dia 17 de outubro de 2013 e sua Mãe Fátima, co-fundadora do Movimento Mães de Manguinhos, foi com outro movimento local, o Fórum Social de Manguinhos, uma das primeiras Mães a acolher Ana Paula. A parceria entre elas já dura quase 10 anos, nesse tempo, os policiais que assassinaram Paulo Roberto foram condenados, uma grande vitória, embora não tenha sido efetiva para poupar outros jovens.
Valendo-se da fé na luta por justiça e em sua força coletiva, é que os movimentos sociais de mães e familiares e os movimentos de Favela se preparam para o grande dia do Júri que ocorrerá na próxima terça-feira (5/3), quase dez anos depois do crime.
Desde o primeiro momento, a Justiça Global buscou estar ao lado de Ana Paula, sua família e as demais nessa luta, em consideração à parceria de longa data com o Fórum de Manguinhos. Munidas da crença na luta do povo negro por justiça, em especial da luta das Mães e Familiares, estaremos juntas à Ana Paula, às Mães de Manguinhos, às militantes do Fórum Social e a todas as pessoas moradoras de Manguinhos no Tribunal do Juri no dia 05 de março.
A luta pela democracia passa e é estruturada na luta contra o racismo que assassina jovens negros todos os dias no Brasil e que não oferece justiça pela violação do direito primordial à vida. Justiça Para Johnatha!
*Monique Cruz é assistente social, pesquisadora (UFRJ) e coordenadora do programa de Violência Institucional e Segurança Pública da Justiça Global. Cresceu na favela de Manguinhos.
**Ana Paula Oliveira é mãe de Johnatha de Oliveira Lima, defensora de direitos humanos e pedagoga. Tem 47 anos e é moradora da favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio, onde co-fundou o Movimento Mães de Manguinhos.
Crédito da foto de capa: Fernando Frazão/Agência Brasil.
Crédito da foto de miniatura:Reprodução/Facebook Mães de Manguinhos.