Dez anos após a chocante imagem de uma mulher negra pendurada e arrastada pelo camburão da Polícia Militar em uma avenida conhecida e movimentada do subúrbio carioca, parte da sociedade brasileira se vê, mais uma vez, chocada com o racismo das instituições que insistem em nos dizer que vidas negras não importam.
A notícia da absolvição dos seis policiais envolvidos no assassinato de Claudia Silva Ferreira, vítima de “bala perdida” e arrastada por cerca de 350 metros no bairro de Madureira, onde vivia com o marido, quatro filhos e sobrinhos, além de parecer zombar com quem está na luta por memória, justiça e reparação, principalmente os familiares de vítimas de violências cometidas pelo Estado, confirma o recado que o judiciário brasileiro tem nos enviado cotidianamente: a execução brutal do povo negro está normalizada, é a regra e não a exceção. Afinal, o Estado, sem nenhum pudor, protege e inocenta quem os mata.
A impunidade, no caso de Claudia, mais uma vez, escancara o racismo do judiciário, que nos últimos meses, amenizou ou absolveu crimes de assassinatos cometidos por agentes do Estado em casos como o do menino Johnatha de Oliveira, morto com tiro pelas costas em Manguinhos, também há dez anos. Já em 2018, a PM matou Lucas de Azevedo Albino e em 2019, soldados do Exército brasileiro que estavam em um patrulhamento alvejaram o músico Evaldo Rosa e o catador de papel Luciano Macedo com mais de 200 tiros.
Para exemplificar a covardia, o racismo, as violações de direitos humanos e a impunidade que permeia a atuação das instituições brasileiras, poderíamos citar outros inúmeros casos de jovens, mães e pais de família, todos negros, que tiveram suas vidas ceifadas pela PM em todo o Brasil, mas por ora, manifestamos total repúdio ao que consideramos uma afronta à luta por justiça e reafirmamos: não desistiremos de lutar contra a desumanização de pessoas negras.