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Os desastres socioambientais não afetam as populações de maneira uniforme. Ao contrário, os riscos e impactos recaem de maneira mais dura e evidente sobre grupos mais vulneráveis. No caso do rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco não foi diferente. Estudo preliminar conduzido pelo Professor Luiz Jardim Wanderley, da Uerj, explora e detalha a distribuição racial dos moradores de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, e outras localidades afetadas, de acordo com os dados do Censo de 2010. [Ver o estudo completo]
Bento Rodrigues, localizado no município de Mariana, é parte do distrito de Santa Rita Durão. Bento é classificado pelo IBGE como um “Aglomerado Rural Isolado – Povoado” deste distrito. Tomando por base a população total de Bento Rodrigues (de 492 moradores, segundo o Censo de 2010), e os dados para a população rural de Santa Rita Durão (de 500 moradores, segundo os dados do Censo), o estudo conclui que a população rural do distrito de Santa Rita equivale quase que totalmente à população de Bento Rodrigues, único povoado rural desta área. Deste modo, é possível concluir que as características étnico/raciais atribuídas pelo Censo à população rural de Santa Rita Durão equivalem às características étnico/raciais da população de Bento Rodrigues. E o estudo aponta que 84,3% da população de Bento é composta por pretos e pardos, classificação utilizada pelo IBGE.
O estudo utiliza cálculo semelhante para estimar a proporção da população negra em outras localidades atingidas, como Paracatu de Baixo, no município de Mariana, e Gesteira, no município de Barra Longa.
![tabela distribuição racial dos atingidos pelo rompimento Wanderley, 2015.](https://www.global.org.br/wp/wp-content/uploads/2015/11/tabela-distribui-o-racial-dos-atingidos-pelo-rompimento.jpg)
As conclusões do estudo apontam que os impactos foram mais severos nas áreas de maior população negra. Esta população habitava áreas mais inseguras e mais expostas aos riscos da atividade mineradora, e sofreu diretamente o impacto do rompimento da barragem de rejeitos.
“Constata-se de maneira preliminar, com base nos dados apresentados acima, que há uma tendência de intensificação do predomínio de população negra quanto maior a exposição às situações de riscos relacionadas à proximidade com a exploração mineral de ferro e das barragens de rejeito da Samarco. Bento Rodrigues com uma população 84,3% negra se encontrava a pouco mais de 6 km da barragem de rejeito rompida; Paracatu de Baixo com 80% se situava a pouco mais de 40 km a jusante da barragem (seguindo o curso do rio Gualaxo do Norte); o povoado de Gesteira afastado aproximadamente 62 km da barragem apresenta 70,4% da população negra, cidade de Barra Longa com 60,3% da população negra dista cerca de 76 km da barragem aproximadamente. Foram, sobretudo, estas comunidades negras as que mais sofreram com as perdas humanas e com os impactos materiais, simbólicos e psicológicos”. (Wanderley, 2015)