Votos críticos foram apresentados na assembleia anual da empresa em abril.
Via Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale
A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV) lançou, na última sexta-feira (06/12), o Caderno de Votos das Acionistas Críticas, que compila os votos apresentados durante a Assembleia Geral de Acionistas realizada pela Vale em 2024. Os votos são apresentados na íntegra, da maneira como foram expostos durante a assembleia, de maneira virtual, pelas acionistas críticas.
Junto aos votos de 2024, também estão publicados um artigo sobre as crescentes ameaças a defensoras e defensores de direitos humanos no contexto após os desastres-crimes da Vale em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, além de duas cartas com denúncias de atingidos e atingidas pela Vale de Itabira–MG e da Baía de Sepetiba–RJ.
O Caderno de Votos de 2024 foi preparado tendo em vista a Caravana da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale pelo Maranhão e Brasília nos meses de outubro e novembro desse ano. A caravana teve como objetivo o aprofundamento do intercâmbio entre os atingidos e atingidas de várias partes do país onde a Vale atua, culminando em uma série de reuniões com distintos ministérios, em Brasília, pautando uma ação governamental contra a Vale e pela proteção dos direitos humanos. O Caderno de Votos de 2024 foi entregue em Brasília a gestoras e gestores públicos federais em ministérios e secretarias durante reuniões de incidência política.
Quem são as acionistas críticas
Uma acionista crítica é alguém que compra ações de uma empresa e utiliza seu direito de voz e voto durante as assembleias gerais anuais para denunciar aos demais acionistas as violações de direitos humanos e ambientais cometidos pela empresa. Durante a assembleia da Vale S.A., as acionistas críticas da AIAAV apresentam seus votos contrários às decisões corporativas que reforçam ou promovem crimes e violações. Tanto as denúncias quanto os votos contrários e suas justificativas são registrados em ata. Assim, a Vale e seus acionistas não poderão alegar desconhecimento sobre as violações de direitos e crimes cometidos.
Constrangimento e contradições
Essa tática pressupõe constranger diretamente os diretores e demais acionistas da companhia, confrontando seus planos e projetos a partir das contradições presentes nos relatórios e outros documentos informativos da empresa e o que ocorre nos territórios onde opera. Trata-se de expor as contradições dos discursos de “responsabilidade social” e “sustentabilidade” que a Vale alardeia a partir das evidências contrárias de sua prática nos territórios.
Os votos lidos e protocolados nas assembleias de acionistas da Vale pela AIAAV têm se revelado instrumentos de denúncia relevantes no sentido de que a empresa não pode se furtar a considerá-los. Dessa forma, ignorar seu registro é um ato que tende a ser cobrado pelos demais acionistas, bem como pelos reguladores públicos de sua atividade.
Importante ressaltar que a compra das ações pelos acionistas críticos não tem fins econômicos, e por isso não se confunde com a compra de ações pelos acionistas comuns. Enquanto para os acionistas é possível fazer negócios moralmente “bons”, para os acionistas críticos não se trata de negócios.
Baixe na íntegra [aqui].
Foto da capa: Performance em 2025 em frente à sede da Vale, no Rio de Janeiro–RJ. Crédito: Justiça Global.