Contra o retrocesso na moderação de conteúdo da Meta e os ataques à regulação democrática do espaço digital

Assinada por mais de 170 organizações – incluindo a Justiça Global, carta-repúdio da Coalizão Direitos na Rede classifica como grave retrocesso na já problemática moderação de conteúdo nas plataformas Facebook, Instagram e Threads

A Justiça Global se somou à iniciativa da Coalizão Direitos na Rede no manifesto-repúdio “Contra o retrocesso na moderação de conteúdo da Meta e os ataques à regulação democrática do espaço digital”. Até o início da tarde desta segunda-feira (13), mais de 170 organizações da sociedade civil brasileiro já tinham assinado o documento.

A carta está aberta para assinatura no site da Coalizão Direitos na Rede.

Além do documento, é prevista a construção de uma agenda de mobilizações e luta em defesa de uma regulação sobre as grandes plataformas digitais, que assegure direitos às pessoas, institua instrumentos de transparência sobre a moderação de conteúdos e as responsabilize pelos atuais danos e futuros riscos que seus sistemas acarretam e venham acarretar.

Leia a carta abaixo:

Contra o retrocesso na moderação de conteúdo da Meta e os ataques à regulação democrática do espaço digital

Nós, os signatários, manifestamos nosso mais veemente repúdio ao recente pronunciamento de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, no qual ele anuncia medidas que representam um grave retrocesso na já problemática moderação de conteúdo nas plataformas Facebook, Instagram e Threads. Sob o pretexto de “restaurar a liberdade de expressão”, as propostas delineadas não apenas colocam em risco grupos vulnerabilizados que usam esses serviços, mas também enfraquecem anos de esforços globais para promover um espaço digital um pouco mais seguro, inclusivo e democrático.

Zuckerberg propõe substituir checadores de fatos por um sistema de “notas comunitárias” (seguindo o modelo problemático do X) e pretende reduzir drasticamente filtros de moderação, priorizando apenas violações “graves” (sobre terrorismo, exploração sexual infantil, drogas e fraudes). Ou seja, a empresa sinaliza que não terá mais ações de moderação de conteúdos contra desinformação, discurso de ódio e outras políticas de proteção a favor das pessoas mais vulnerabilizadas. O CEO da Meta explicitamente admite aceitar os riscos de que essas novas políticas possam filtrar menos conteúdos nocivos do que as anteriores. 

Atualmente, já é notável ao redor do mundo serem falhas as Políticas de Moderação de conteúdo das redes da Meta, dando margem à práticas de violência de gênero, afetando a proteção de crianças e adolescentes, crescimento de grupos que propagam discurso de ódio e desinformação, além de outras violações de direitos humanos. As novas medidas propostas pioram a situação ao negligenciar os impactos reais dessas práticas de violência online, além de abrir caminho para a proliferação de conteúdos prejudiciais que desestabilizam sociedades e minam processos democráticos. 

Outra mudança anunciada foi a adoção de uma abordagem caracterizada como “mais personalizada” para conteúdos políticos, ampliando a recomendação dessas mensagens. Em que pese a ausência de clareza sobre a medida, ela sinaliza a ampliação das “bolhas”, em detrimento do debate democrático aberto sobre temas de relevância pública. Estudos já mostraram como efeitos bolha potencializam a construção e reprodução de visões baseadas em desinformação, discurso de ódio e conteúdo prejudicial que limitam o debate democrático e a construção de sociedades mais justas.

O discurso da Meta se alinha com uma retórica preocupante que afronta iniciativas regulatórias legítimas e necessárias de governos e da sociedade civil em diversas partes do mundo, incluindo a América Latina, generalizando essas ações como “censura” ou “ataques a empresas estadunidenses”. Ao fazer isso, a Meta ataca de forma aberta os esforços soberanos e democráticos de nações em proteger suas populações contra os danos provocados pelas Big Techs. Com isso, prioriza, mais uma vez, os interesses estadunidenses e os lucros de sua corporação em detrimento da construção de ambientes digitais que prezam pela segurança de seus consumidores.

A proposta de “trabalhar com o presidente Trump para combater regulações ao redor do mundo” explicita uma posição alinhada a interesses que beneficiam as plataformas digitais por serem contrárias ao progresso regulatório que visa proteger direitos humanos fundamentais ao responsabilizá-las pelas externalidades negativas de seus modelos de negócios. Ou seja, ao contrário da proposta de “reduzir a tendência ao viés” (da moderação de conteúdo), essa política por si só é enviesada para uma ideologia contrária a direitos fundamentais. A Meta poderia promover a liberdade de expressão por meio de medidas de transparência e accountability, no entanto, opta por “simplificar” as medidas de moderação de conteúdo alinhado ao discurso propagado pelo recém-eleito governo de Trump. 

O anúncio de Zuckerberg é emblemático de um problema estrutural: a concentração de poder nas mãos de corporações que atuam como árbitros do espaço público digital, enquanto ignoram as consequências de suas decisões para bilhões de usuários. Esse retrocesso não pode ser visto como um mero ajuste de políticas corporativas, mas como um ataque frontal desse monopólio de plataformas digitais às conquistas de uma internet mais segura e democrática.

Reafirmamos que a liberdade de expressão não pode ser usada como escudo para legitimar práticas que promovam violência, desigualdade e desinformação. O recente pronunciamento do CEO da Meta demonstra como a autorregulação das grandes plataformas digitais tem se mostrado insuficiente, sujeitando a adoção, atualização ou suspensão de qualquer política ao arbítrio unilateral das empresas. Cabe aos Estados e à sociedade civil fortalecer mecanismos regulatórios públicos e sociais que coloquem as pessoas e os direitos humanos acima dos lucros.

Exigimos que as plataformas lideradas por Mark Zuckerberg revejam essas medidas e assumam sua responsabilidade no combate ao discurso de ódio, à desinformação e à exploração online. Também conclamamos governos e organizações ao redor do mundo a intensificar os esforços para criar um arcabouço regulatório global que proteja os direitos digitais e garanta que o espaço digital seja um ambiente seguro, justo e democrático para todos.

Este é um momento crucial. O futuro do espaço digital depende de nossa capacidade coletiva de resistir a retrocessos e avançar em direção a uma governança digital centrada nas pessoas e no planeta.

Assinam:

  1. ABJD – Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia
  2. Abong – Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
  3. Ação da Cidadania – Comitê Pará
  4. Ação Educativa – Assessoria, Pesquisa e Informação
  5. ADUR/RJ – Associação Docente da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
  6. AGC Consultoria
  7. Aláfia Lab
  8. Aliança Nacional Lgbti+
  9. AMARU – OBSERVATÓRIO LATINO AMERICANO DE COMUNICAÇÃO, MÍDIAS E DIREITOS HUMANOS/ DECOM/UFRN.
  10. AMC – Associação Mulheres na Comunicação
  11. ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
  12. ANDI – Comunicação e Direitos
  13. APUBH – Sindicato dos professores de universidades federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco.
  14. Aqualtune Lab
  15. Ass. Internacional Maylê Sara Kali – AMSK/Brasil
  16. Associação Brasileira de Comunicação Pública – ABCPública
  17. Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABej)
  18. Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
  19. Associação Brasileira de Medicina Personalizada e de Precisão/Brazilian Personalized and Precision Medicine Association
  20. Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação
  21. Associação Brasileira de Rádios Comunitárias – Abraço Brasil
  22. Associação Cultural Alquimídia
  23. Associação das Paradas do Orgulho LGBT de Salvador ASPOLGBT
  24. Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE)
  25. Associação Namazonia
  26. Barracon Digital
  27. Bloco Não é Não – Goiânia, Goiás/Brasil
  28. Brasil de Fato RS
  29. Business and Human Rights Resource Centre
  30. Caliandra – Coletivo de Mulheres do Cerrado
  31. Casa Marielle Franco Brasil
  32. Casa Socialista
  33. Cátedra Sustentabilidade – Universidade Federal de São Paulo
  34. CC/DC – Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania da Universidade Federal da Bahia
  35. CENARAB – Centro Nacional de Africanidade Resistência Afro Brasileiro
  36. Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
  37. Centro de Estudos de Segurança e Cidadania – CESeC
  38. Centro de estudos e pesquisas em ciências do comportamento
  39. Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho da USP
  40. CEPAD – Centro de Estudos e Pesquisa em Análise do Discurso – UFBA
  41. Ciranda Comunicação / Associação Internacional de Comunicação Compartilhada (Compas)
  42. Coalición por el Fortalecimiento de la Libertad de Expresión Chile
  43. Código Não Binário
  44. Coding Rights
  45. Colégio Multi
  46. Coletivo Afro Acadêmico
  47. Coletivo Digital
  48. Coletivo População Negra e Saúde Digital
  49. Coletivo Soylocoporti
  50. Compolítica – Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política
  51. Comunidade Batista do Caminho (CBC)
  52. Comunidade Praxis
  53. Conectas Direitos Humanos
  54. Conexion Educativa
  55. Conjunta
  56. Cooperativa Sulá Batsú
  57. Cooperativa Tierra Común – México
  58. Coordenação Nacional dos Interesses das Pessoas com Deficiência/PSB Inclusão.
  59. CoPai – Coalizão Licença Paternidade
  60. CRIAR Brasil
  61. CUT – Central Única dos Trabalhadores
  62. Data Privacy Brasil
  63. data_labe
  64. Digital Action
  65. Dimicuida
  66. DiraCom – Direito à Comunicação e Democracia
  67. Ebaplay Ind. e Com. Ltda
  68. Educadora Menstrual
  69. ELA-IA (Estratégia Latino-Americana de Inteligência Artificial)
  70. Entrepalavras Produção de textos
  71. Escola de Educação Infantil Educar para o Futuro
  72. Estúdio RJ
  73. Fazer Educação
  74. Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro, Feteerj
  75. Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ
  76. Federação Nacional dos Sociólogos -Brasil – FNS-B
  77. Fitt-livre
  78. FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
  79. FNDC – Roraima
  80. Fórum de Entidades do Campo
  81. Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas
  82. Fórum para Tecnologia Estratégica dos BRICS+
  83. Fórum Permanente de Educação Inclusiva do Espírito Santo (FPEIES)
  84. Fundación Huaira – Equador
  85. Fundación Internet Bolivia.org
  86. Fundación Karisma
  87. Fundación Taiguey – República Dominicana
  88. Futurability – Consultoria, Educação Executiva e Pesquisa
  89.   Garotas do Motion®
  90. GEPDiM/UFSC/CNPq
  91. GEPEADS/UFRRJ – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade
  92. Grupo de Pesquisa DESCOM – Insurgências Decoloniais, Comunicação, Artes e Humanidades
  93. Grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias – GEC/FACED/UFBA
  94. Grupo de Pesquisa em Jornalismo, Direito e Liberdade (USP)
  95. Grupo de pesquisa Mídia-Educação e Comunicação Educacional (COMUNIC) – UFSC
  96. Hiperderecho
  97. Hzen do Brasil
  98. IBIDem – Instituto Beta para a Internet & a Democracia
  99. Idec – Instituto de Defesa de Consumidores
  100. InfoCria
  101. Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial
  102. Iniciativa Educação Aberta – UnB
  103. Instituto Alana
  104. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – Ibase
  105. Instituto Brasileiro de Políticas Digitais – Mutirão
  106. Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife – IP.rec
  107. Instituto de Referência em Internet e Sociedade – IRIS
  108. Instituto Democracia em Xeque
  109. Instituto NUPEF
  110. Instituto Panamericano de Derecho y Tecnología – IPANDETEC
  111. Instituto Physis – Cultura & Ambiente
  112. Instituto Telecom
  113. Instituto Teofilo centro clínico-terapêutico para o desenvolvimento humano
  114. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
  115. International Center for Information Ethics
  116. Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
  117. IPANDETEC
  118. Jararaca: Laboratório de Tecnopolíticas Urbanas – PUCPR
  119. Jornalistas Livres
  120. Jubarte Comunica
  121. Justiça Global
  122. KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço
  123. Laboratório de Cultura Digital – UFPR
  124. Laboratório de Políticas de Comunicação – UnB
  125. Laboratório de Políticas Públicas e Internet – LAPIN
  126. Laboratório do Futuro – UFC
  127. Lavits – Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade
  128. Linha ECO do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina ECO/PPGE/UFSC
  129. MM&OE EDITORA
  130. Motriz Sociocultural
  131.  Movimento Desconecta
  132. Movimento FeliciLab
  133. Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH Brasil
  134. Movimento Negro Unificado (MNU)
  135. Núcleo de Comunicação e Educação da USP
  136. Núcleo de Jornalismo e Audiovisual (NJA)
  137. Núcleo de Pesquisa em Didática da História e Interculturalidade Crítica (NUPEDHIC) – Brasil
  138. Núcleo Digital – Tecnologias Democráticas
  139. Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Extensão em Direitos Humanos – UFG
  140. OBSERVACOM (Observatorio Latinoamericano de Regulación, Medios y Convergencia)
  141. ONG Amaranta
  142. Open Knowledge Brasil
  143. Partido dos Trabalhadores de Anchieta – SC
  144. Peditaria Integral
  145. Pimentalab – Laboratório de Tecnologia, Política e Conhecimento da Unifesp
  146. Plataforma Conjunta
  147. ProgMaria
  148. Red Tierra Común
  149. Rede de Pesquisa Currículo e Tecnologia- REPERCUTE/UFSC
  150. Rede Inovação e Território
  151. Rede Latinoamericana de Investigadores en Comunicación Organizacinal – RedLAco
  152. Rede Nacional de Combate à Desinformação – RNCD Brasil
  153. Redes Cordiais
  154. ReLAEE – Rede Latino Americana Espaço e Economia
  155. Repórteres Sem Fronteiras (RSF)
  156. Secretaria de Inclusão e Acessibilidade da Universidade Federal do Espírito Santo
  157. Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS)
  158. Sindicato dos Jornalistas Prof. do Mun. RJ
  159. Sindicato dos Sociólogos e Sociólogas do Estado do Rio de Janeiro
  160. Sindicato dos Trabalhadores rurais agricultores (as) familiares de Barreiras
  161. Sleeping Giants Brasil
  162. Sursiendo, Comunicación y Cultura Digital – México
  163. TechMOV (Coletivo de Tecnologia ligado ao Movimento Internacional de Juventudes)
  164. TEDIC
  165. Teia de Criadores
  166. The Tor Project
  167. Universidade Federal do Pará – o Programa de Pós-Graduação em Currículo e Gestão da Escola Básica (PPEB) e Programa de Pós-graduação em Educação e Cultura (PPGEDUC)
  168. Usuarios Digitales
  169. Vale Verdejante
  170. Vórtice Estúdio
  171. Wiki Movimento Brasil

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