Livro resgata 15 anos de luta e resistência ao modelo extrativista de mineração imposto pela Vale S.A.

De autoria das pesquisadoras Marina Praça e Larissa Cabral, a publicação foi lançada digitalmente pela Justiça Global e a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale nesta segunda-feira (9) e está disponível para download gratuito.

A Justiça Global e a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale (AIAAV) lançam nesta segunda-feira (9/12) o terceiro volume da Coleção Caminhos, com o título Histórias e práticas políticas em resistência a Vale S.A., um livro que documenta as lutas de resistência de comunidades impactadas pelas atividades da mineradora Vale S.A., revelando um cenário marcado por violações de direitos humanos, ambientais e sociais. 

Escrita pelas pesquisadoras Marina Praça e Larissa Cabral, a obra reúne – em seis capítulos – relatos de lideranças e movimentos sociais que, ao longo dos últimos 15 anos, enfrentaram os efeitos destrutivos de um modelo de mineração que ameaça comunidades tradicionais e ecossistemas inteiros, tanto no Brasil quanto no exterior.

É um material para celebrar essa trajetória e também para manter viva a nossa crítica ao modelo mineral brasileiro e o papel da Vale como protagonista desse modelo, que traz diversos impactos, crimes e degradação da dignidade humana e da natureza. A perspectiva principal é olhar para essa trajetória de resistência desde a Articulação, para entender um pouco sobre as metodologias e pedagogias de luta, que vêm dos sujeitos, das coletividades, e são construídas a partir dos movimentos vivos de resistência. O foco é a voz de quem está à frente, explica Marina Praça, que organizou a produção.

capa do livro Histórias e práticas politicas de resistência à Vale S.A

As autoras constroem assim um panorama abrangente da atuação da Articulação e das diferentes frentes de luta contra a Vale S.A. Além de narrar as histórias de luta, o livro oferece uma reflexão crítica sobre o modelo mineral brasileiro, denunciando os impactos negativos da mineração para comunidades e ecossistemas. A publicação também ressalta a importância da memória coletiva como ferramenta de luta e transformação social.

Registrar a história é parte fundamental da luta. Esse livro nos ajuda a entender a gravidade do problema mineral brasileiro e fortalece nossos laços de resistência”, destaca a defensora de direitos humanos Maria Júlia Andrade, que assina o prefácio, ao enfatizar a importância do registro dessas histórias como uma ferramenta de conscientização e mobilização.

Fundada em 1942 como empresa estatal, a Vale foi privatizada em 1997 e passou a operar em dezenas de países. Desde então, o perfil da empresa ficou ainda mais agressivo, intensificando conflitos sociais e ambientais. Cada vez mais, a atuação da Vale tem se caracterizado por uma política empresarial que desrespeita frontalmente os direitos de comunidades atingidas por seus empreendimentos e desafia leis, tratados internacionais e a luta organizada de trabalhadores.

Desde então, foram diversas as articulações para que, em 2010, um grande encontro internacional no Rio de Janeiro–RJ, marcasse a fundação da Articulação. De lá para cá, destacam-se como estratégias, como a atuação como acionistas críticos, as caravanas, a produção de relatórios-espelhos de sustentabilidade e demais produções de contra-narrativas. 

“Registrar a história é parte fundamental da luta. Esse livro nos ajuda a entender a gravidade do problema mineral brasileiro e fortalece nossos laços de resistência”, destaca a defensora de direitos humanos Maria Júlia Andrade, que assina o prefácio, ao enfatizar a importância do registro dessas histórias como uma ferramenta de conscientização e mobilização.

Fundada em 1942 como empresa estatal, a Vale foi privatizada em 1997 e passou a operar em dezenas de países. Desde então, o perfil da empresa ficou ainda mais agressivo, intensificando conflitos sociais e ambientais. Cada vez mais, a atuação da Vale tem se caracterizado por uma política empresarial que desrespeita frontalmente os direitos de comunidades atingidas por seus empreendimentos e desafia leis, tratados internacionais e a luta organizada de trabalhadores.

Desde então, foram diversas as articulações para que, em 2010, um grande encontro internacional no Rio de Janeiro–RJ, marcasse a fundação da Articulação. De lá para cá, destacam-se como estratégias, como atuação como acionistas críticos, as caravanas, a produção de relatórios-espelhos de sustentabilidade e demais produções de contra-narrativas. 

A história da luta, das mulheres, dos trabalhadores em Minas Gerais, no Maranhão até Moçambique

A construção do livro foi baseada em entrevistas com lideranças, grupos focais e pesquisas, em um esforço conjunto da Justiça Global e da AIAAV. O objetivo, além de registrar a memória das lutas, é também fortalecer as articulações e inspirar novas mobilizações.

Com base em entrevistas semi-estruturadas, entrevistas e grupos focais, o primeiro capítulo reconta sobre as caminhadas realizadas pela articulação. Já o segundo capítulo dá ênfase à luta coletiva protagonizada por mulheres em Antônio Pereira-MG, que além de enfrentarem os danos ambientais, também lidam com o machismo e a sobrecarga de trabalho.

Ficaram evidentes os impactos diferenciados para mulheres que advém da estrutura patriarcal presente mega projetos desenvolvimentistas e de alto impacto ao meio ambiental”, afirma Marina Praça. 

O papel do Sindicato Metabase Inconfidentes, um dos poucos sindicatos combativos do setor, é destacado, no terceiro capítulo do livro, como exemplo de resistência dos trabalhadores frente à Vale. No quarto setor, a pauta é a conexão entre movimentos sociais do Brasil e do Moçambique, além do Canadá, países onde a mineradora brasileira também se estabeleceu, ilustrando a importância dos intercâmbios internacionais no fortalecimento da resistência. Já no último capítulo, as autoras apresentam o foco mais atual de investimentos da empresa, especialmente no Corredor Carajás, entre o Pará e o Maranhão.

A obra está disponível para baixar gratuitamente [Acesse aqui].

Lançamento é realizado durante Caravana dos/as Atingidos/as 2024, marcado pela homenagem à liderança quilombola Anacleta Pires

A apresentação presencial do livro Histórias e práticas políticas em resistência à Vale S.A. foi realizada durante o fechamento da Caravana da Articulação dos Atingidos e Atingidas pela Mineração junto à homenagem a uma das entrevistadas na obra: Anacleta Pires, liderança do quilombo Santa Rosa dos Pretos, no Maranhão, que se encantou em setembro deste ano. O evento ocorreu em Brasília, entre 25 e 27 de novembro, com uma programação voltada à incidência política por reparação e justiça às vítimas da mineradora.

Compuseram a caravana pessoas atingidas pela Vale em Brumadinho, Mariana e Itabira, em Minas Gerais, além de representantes de pessoas atingidas no Pará, Maranhão e Rio de Janeiro. Com o lema “Sem reparação não há justiça!”, a caravana já havia passado por Açailândia, no Maranhão, onde as pessoas participantes puderam conhecer os impactos da cadeia minero-siderúrgica na comunidade de Piquiá de Baixo, no município de Açailândia, e a luta de suas moradoras e moradores pelo reassentamento em um local distante da poluição, destruição e violência das empresas.

O objetivo da caravana, tanto no Maranhão quanto em Brasília, foi permitir o aprofundamento do intercâmbio entre os atingidos e atingidas de várias partes do país onde a Vale atua, culminando em uma série de reuniões com distintos ministérios, em Brasília, pautando uma ação governamental contra a Vale e pela proteção dos direitos humanos.

Sinopse

– A publicação busca contar como se desenvolvem as lutas de resistência em territórios impactados pelas atividades da transnacional Vale S.A, assim como observar as dinâmicas organizativas construídas nesse contexto. A empresa, há décadas na mineração, provoca destruição ambiental e viola direitos, principalmente de povos e comunidades tradicionais, em várias partes do mundo. Buscamos aqui aprofundar a compreensão do modelo mineral e de seus impactos a partir dos sujeitos e das coletividades que resistem às violações causadas por ele, para identificar práticas políticas coletivas de enfrentamento e pedagogias de luta constituídas em resistência. Com essa composição orquestrada de histórias esperamos fortalecer a defesa dos territórios frente à mineração e proporcionar, a quem leia, adentrar as narrativas através da razão e da emoção para que, assim, tornem-se mais sensíveis e possam se somar à luta dos povos.

Sobre as autoras

Marina Praça é educadora popular e pesquisadora social. Formada em biologia e mestra em educação. Sua trajetória militante e profissional é vinculada aos movimentos sociais de luta pela terra e o território, os conflitos socioambientais, a luta das mulheres, coletivos populares em favelas e direitos humanos. Assim como, com atuação e colaboração com organizações do terceiro setor desde 2013. Sua caminhada parte do olhar da educação popular, dos feminismos populares, da crítica ao modelo de desenvolvimento e do pensamento crítico latino-americano.

Larissa Cabral é neta de Seu Geraldo e Dona Aparecida, trabalhadores rurais e responsáveis por ensinar a ela o amor pelas plantas, pela natureza e pelas pessoas. Como consequência desse aprendizado e de políticas públicas de acesso, foi a primeira da família a ingressar numa universidade pública. Na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), se formou em licenciatura em ciências agrícolas e agronomia, se tornou mestra em Educação e, atualmente, está concluindo o doutorado em ciências sociais, com ênfase nos debates de agricultura e sociedade. É feminista e mãe da Manu, de 3 anos. Atua junto aos movimentos sociais e organizações populares, com destaque para a promoção da agroecologia e sistematização de experiências. Durante o período da pesquisa para o livro, entre 2022 e 2023, atuava como secretária-operativa da Articulação Internacional dos/as Atingidos/as pela Mineração. 

Sobre a coleção

A Coleção Caminhos é uma iniciativa da Justiça Global para debater temas relacionados à justiça socioambiental, em consonância com a luta contra o machismo e o racismo, e pela garantia do direito à terra e ao território como direito coletivo relacionado ao acesso aos bens comuns da natureza, à cultura e ao respeito aos modos de vida das comunidades, além de construir estratégias de responsabilização de Estados e de empresas por violações de direitos humanos e danos ao meio ambiente. 

Enfatizando os processos de resistências vividos, em especial pelas populações atingidas – daí o nome, Caminhos – a coletânea nasceu, assim, como o propósito de intensificar o diálogo com autoras e autores parceiros e reconhecidos em seus campos de atuação e diante da necessidade de aprofundar questões e conceitos que ou já têm repercussão nos sistemas internacionais de proteção aos direitos humanos ou, ao menos, merecem ter. 

Assim, selecionamos os temas: Reparação Integral; Racismo Ambiental; Aplicação da Consulta Prévia e Informada; e Resistências à Mineração. A partir da Coleção Caminhos, a Justiça Global almeja disputar os sentidos da justiça socioambiental, visibilizar os sujeitos e os territórios e ampliar a visão de direitos humanos.

Acesse os volumes já lançados:

Sobre a Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale (AIAAV) 

É uma rede de solidariedade que congrega, desde 2009, diversos grupos, como sindicalistas, ambientalistas, ONGs, associações de base comunitária, grupos religiosos e acadêmicos do Brasil e do mundo. Seu objetivo central é contribuir com o fortalecimento das comunidades em rede, promovendo estratégias de enfrentamento aos impactos socioambientais relacionados à indústria extrativa da mineração, sobretudo os vinculados à empresa Vale S.A. 

Atualmente, compõem o comitê operativo da Articulação:  Brigadas Populares, Coletivo Margaridas Alves de Assessoria Popular, FASE, Instituto PACS, Justiça Global, Justiça nos Trilhos, Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Sindicato Metabase Inconfidentes, e Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Estado do Paraná–Sindiquímica (PR). Além disso, outras organizações sociais do Brasil, da Bolívia, da Argentina, do Peru, do Canadá, de Moçambique e da Indonésia também fazem parte do movimento.

Sobre a Justiça Global

A Justiça Global é uma organização não governamental sem fins lucrativos que, desde 1999, atua na defesa e promoção dos direitos humanos, por meio da incidência nos mecanismos internacionais de direitos humanos, na produção de dados e acompanhamento de casos emblemáticos, com foco na proteção da/os defensoras/es de direitos humanos e da democracia; na justiça socioambiental e climática; e no combate à violência institucional e na segurança pública. 

 

Ficha técnica:

Título: Histórias e práticas políticas em resistência a Vale S.A.
Autoras: Marina Praça e Larissa Cabral
Preço: Distribuição gratuita
Páginas: 172
Formatos: Impresso = 13,5×20,5cm; Livro eletrônico [e.book] = .pdf
ISBN: 978-65-87127-03-3
Editora: Justiça Global

 

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