Os jovens negros são as principais vítimas da violência institucional no Brasil, sendo que os efeitos desses assassinatos atingem também diretamente as mães deles, que transformam seu luto em luta por justiça. As vozes dessas mulheres é o grande destaque do livro “MÃES EM LUTA: 10 ANOS DOS CRIMES DE MAIO DE 2006”, que reúne 15 perfis de mulheres de todo o país. A publicação foi lançada no Rio de Janeiro no dia 22, na Uerj, com a realização de um debate no qual foi colocado em questão o papel do Estado como grande violador de direitos no país.
“A polícia é o ponto cego da democracia. O que vemos em países como Brasil e Argentina são polícias que foram parte da repressão da ditadura e sobreviveram para a democracia sem nenhuma reforma. O fato de a polícia não ter sido transformada naquele momento gerou esse tipo de problema. Em tese, na democracia, todos temos direitos, temos ferramentas pelas quais podemos conseguir reparações se o Estado violar nossos direitos, mas isso não ocorre quando envolve a polícia”, comenta Yanilda María González, professora da Universidade de Chicago, que estuda as polícias do Brasil, Argentina e Colômbia, e estará na mesa de lançamento.
Débora Silva Maria, uma das fundadoras das Mães de Maio, explica que, inicialmente, a publicação seria uma biografia sua. Todavia, em parceria com o site de notícias Ponte Jornalismo, ela decidiu transformar o livro em um relato de mães. “Pensamos especialmente nas mães que não estão na luta, mas não podem ser esquecidas. Pegamos casos do Brasil inteiro, como do Rio e de Belo Horizonte. Cada jornalista conta a história de uma mãe que conta a história de seu filho. É uma publicação que me impressiona muito, como na história da mãe de Minas Gerais, que já havia sido estuprada pela PM quando estava se preparando para ser policial e, anos depois, teve o filho morto pela PM em uma ação”, diz Débora.
Com o livro e o debate, as Mães de Maio colocam em questão o objetivo da PM, que, para elas, certamente não é o de “servir e proteger”. “Nós queremos, exigimos que nosso cotidiano seja desmilitarizado. O que vemos é que esses centros de formação militarizados criam monstros. Veja essa história da mãe que uma vez pensou em ser policial”, afirma Débora.
O debate também contou com a presença de Maria Dalva Correia da Silva, da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, Ana Paula Oliveira, do Movimento Mães de Manguinhos , e Luiza Sansão, da Ponte Jornalismo.
Outro ponto que esteve em discussão é o papel da sociedade como grande validadora da atuação policial. Yanilda destaca o que, para ela, essa talvez seja o maior diferencial da polícia daqui em relação aos outros países que ela pesquisa: “Aqui no Brasil, principalmente no Rio e em São Paulo, que eu conheço, temos polícia extremamente violenta. São números que se destacam de toda a América Latina. O desafio é como controlar o uso da força. A violência é sempre o primeiro recurso da polícia aqui, mas ela faz isso com apoio de grande parte da sociedade, que não vê isso como problema”.
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