Tragédia climática no Rio Grande do Sul: ser solidário e exigir respostas à altura da crise

A Justiça Global se manifestou em nota sobre as questões de direitos humanos implicadas no evento climático extremo que afeta mais de 80% das cidades gaúchas desde a semana passada.

A Justiça Global alertou, em nota publicada nesta quinta-feira (09/05), sobre a iminência do profundamento das desigualdades sociais históricas e das violações de direitos humanos diante do cenário de crise climática no Brasil, evidenciado pelo estado de calamidade que se encontra o estado do Rio Grande do Sul desde a semana passada, diante das enchentes no Rio Guaíba, que afetam 428 das 497 cidades gaúchas. “A emergência climática não é uma abstração do futuro. Acontece no tempo presente”, destaca o texto.

A organização enumerou fatores históricos e econômicos que contribuíram para o agravamento de fenômenos naturais, como o El Niño. Em especial, o modelo de uso e ocupação do solo baseado no monocultivo, na exploração desmedida dos bens comuns da natureza, com atropelo sistemático das normas de proteção ambiental e violação dos direitos de povos e comunidades tradicionais, além de trabalhadores empobrecidos.

A nota destaca ainda que são esses grupos que acabam mais atingidos pelas consequências da tragédia. Ao menos, 80 comunidades indígenas foram afetadas, segundo dados da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), de etnias Guarani-Mbya, Kaingang, Xokleng e Charrua. O estado, segundo o Ministério da Igualdade Racial, tem mais de sete mil famílias quilombolas e aproximadamente 1300 famílias de comunidades tradicionais de matriz africana e terreiros. Muitas delas estão ilhadas, sem acesso à água, energia e alimento.

Para a Justiça Global, o evento climático não está isolado e era previsto, especialmente diante de um histórico desde o fim do ano passado para cá no Brasil, como as secas no Rio Acre e na Bacia Amazônica, além de ondas de calor e/ou chuvas acima da média em diversas regiões do país.

A organização reitera a necessidade dos governos assumirem sua responsabilidade com políticas de adaptação e mitigação climática:

“Vale destacar que o negacionismo não é apenas refutar as evidências e consequências do aquecimento global, mas também negligenciar a necessidade de políticas de adaptação, de mitigação e sobretudo de prover mudanças estruturais na relação com o meio ambiente. É ainda sobrepor os interesses de grandes corporações extrativistas à proteção da natureza e dos povos”, diz a nota. 

Por fim, a organização se solidariza com as centenas de famílias afetadas e enaltece a mobilização de brasileiros(as) em apoio às vítimas no sul do país. “Não obstante, destacamos que é possível, ao mesmo tempo, se solidarizar com as vítimas da tragédia climática no Rio Grande do Sul e atuar de forma crítica com relação ao cenário de devastação que estamos vivenciando”, observa. “Nossa tarefa é pensar e construir futuros possíveis mirando um horizonte de garantia de direitos”.

Confira organizações parceiras que estão recebendo doações para apoiar as vítimas:

 

Programa de Ajuda Humanitária – Themis – Gênero, Justiça e DH

Campanha SOS Emergencial aos desalojado-MST pelas vítimas das enchentes RS;

Campanha centralizada pelos povos indígenas do Rio Grande do Sul do Cimi, da Apib e da Arpinsul;

Campanha Comissão Guarani Guarani Yvirupa;

Campanha RS Precisa de ajuda – Fundo Brasil e Movimento dos Atingidos por Barragens;

Campanha Cozinhas Juntas por RS – MTST;

SOS Comunidades Quilombolas do RS – Conaq/Facrq-RS

 

 

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *