Os Munduruku, do Rio Tapajós, estão em guerra. O inimigo é o governo federal, que pretende construir hidrelétricas e acabar com territórios tradicionais sem respeitar o direito desses povos. Nesta segunda (8), representantes mundurukus estiveram com Victoria Tauli-Corpuz, Relatora Especial da ONU para os direitos dos povos índigenas, em audiência durante a Cumbre de los Pueblos, evento paralelo a COP-20, em Lima, Peru.
Os indígenas responderam a uma declaração feita pelo ministro Gilberto Carvalho, em entrevista dias depois da reeleição da presidenta Dilma Roussef. Na ocasião, Carvalho disse que o governo federal não vai abrir mão de construir hidrelétricas no rio Tapajós. Segundo ele, a Convenção 169 da OIT não é deliberativa e que deve ser feita para atender demandas, diminuir impactos, mas não pode impedir o projeto (leia a entrevista aqui)
Josias Manhuary, líder guerreiro do mundurukus, respondeu ao ministro nesta segunda: “Os mundurukus também nunca vão abrir mão do nosso rio e deixar que esse projeto aconteça. Porque nós temos direitos, garantidos pela nossa constituição de 1988 e pela convenção 169 da OIT”, disse em audiência oficial com Tauli-Corpuz. Ainda segudo Josias, o governo deve consultar cada uma das 128 aldeias, com seus 128 caciques mundurukus, antes de iniciar qualquer projeto na região.
Josias pediu ainda que as lideranças indígenas presentes na audiência levassem sua mensagem a seus povos, e conclamou a união dos povos indígenas contra as injustiças promovidas pelos governos em grandes projetos. “O nosso direito não tem preço. Lutaremos até a última gota de sangue. Nós não temos medo do governo, vamos lutar até o fim”, finalizou.
A relatora da ONU se comprometeu a encaminhar as denúncias e pressionar o governo brasileiro a uma mudança de postura, que respeite os povos indígenas e não viole seus direitos.
>> Entenda o conflito no rio Tapajós e a luta do povo Munduruku.