Justiça Global participa de inspeção nas áreas ribeirinhas atingidas por Belo Monte

Inspeção programada pelos MPF e realizada em conjunto com várias instituições constatou diversos casos de violação de direitos humanos.

Invasão dos Padres - Altamira/PA, por Raphaela Lopes
Invasão dos Padres – Altamira/PA, por Raphaela Lopes

A Justiça Global participou, dentre os dias 1 e 3 de junho, de uma inspeção conjunta do Ministério Público Federal, do Conselho Nacional de Direitos Humanos, além de instituições que atuam na fiscalização e acompanhamento dos impactos promovidos pela usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará. O objetivo da inspeção foi o de verificar de perto a situação dos grupos atingidos pela hidrelétrica. Trata-se de um momento especialmente crítico para os ribeirinhos do Rio Xingu, com a iminência de expedição da licença de operação da usina. Os ribeirinhos foram excluídos da discussão sobre os impactos da Usina durante o processo de licenciamento, e encontram-se agora em grave risco a sua sobrevivência física e cultural.

Durante a inspeção, diversos casos de violações de direitos humanos foram relatados pelos ribeirinhos. Os antigos moradores da comunidade do Santo Antônio, a primeira a ser extinta com as obras de Belo Monte, foram reasentados em agrovilas, longe de suas atividades características de pesca e manejo do rio. Famílias foram separadas e hoje vivem a muitos quilômetros de distância umas das outras. O mesmo relato de indenizações ínfimas e reassentamento em áreas distantes do rio, descaracterizando a cultura e o modo de vida tradicional dos ribeirinhos, foi ouvido em diversas outras comunidades e regiões. Muitos ribeirinhos contaram às equipes que suas casas foram demolidas sem aviso, quando estavam ausentes. Esta prática abusiva vem aterrorizando os moradores, que temem ausentar-se de suas casas e acabam, com isso, comprometendo as suas atividades laborais.

As diversas violações aos direitos das comunidades ribeirinhas envolvem, dentre outros fatores, as indenizações pagas em valor ínfimo, sem levar em consideração a posse reconhecida pelo SPU através do Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS); a patrimonialização do ressarcimento, que não alcança a relação de dependência que os ribeirinhos têm com o rio e a floresta; a falta de acesso à informação e contratos que são assinados com pessoas analfabetas, sem a presença de testemunhas; a promesa de reassentamento rural coletivo constante nos termos celebrados entre os atingidos e a Norte Energia, sem que tal reassentamento tenha sido, de fato, construído; a realocação de famílias de pescadores em locais afastados dos rios, o que impossibilita a manutenção da atividade de pesca; e a não compreensão do direito à moradia, em uma perspectiva ampla, de modo a abranger a dupla moradia quando famílias de pescadores possuem uma casa na cidade e outra próxima ao rio,

Foram também relatadas durante a inspeção a violência dos agentes da empresa de segurança privada contratada pela Norte Energia contra os ribeirinhos, bem como a dificuldade de acesso à justiça, em especial pela ausência de defensores públicos estaduais no município de Altamira, e pela visita apenas quinzenal de defensores públicos da União à cidade.

Após a inspeção, o Ministério Público Federal apresentou ao Governo Federal um relatório parcial em que enumera 55 constatações sobre o descumprimento das obrigações da usina e violações dos direitos dos atingidos. Espera-se a apresentação de uma resposta formal do Governo Federal sobre sobre as providências que serão adotadas para resolver os problemas apontados.

Veja as 55 constatações preliminares da inspeção apesentadas pelo MPF

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *