A atuação de empresas estrangeiras no Brasil é conhecida e, diversas vezes, criticada, por trazer mais prejuízos do que benefícios para o país e as populações dos locais onde elas se instalam. Esse modelo de negócios, todavia, não é exclusividade de empresas do Norte Global que atuam aqui e em outros países em desenvolvimento. As próprias empresas brasileiras têm um longo currículo de projetos no exterior que causam os mesmos tipos de impactos. No novo relatório «Mineração e Violações de Direitos – Peru», a Justiça Global analisa e denuncia a atuação das brasileiras Odebrecht e Vale. A primeira, pela construção da Hidrelétrica de Chadín 2, na região de Cajamarca, e a segunda pela mineração de fosfato em Sechura.
O trabalho de campo e a escrita do relatório foram feitos antes dos escândalos sobre a atuação da Odebrecht no Peru que, no ano passado, levaram à prisão do ex-presidente Ollanta Humala, além de graves acusações contra o atual presidente, Pedro Pablo Kuczynski. A publicação mostra de forma contundente como as atividades da empreiteira brasileira há anos já levantavam suspeitas, não apenas na questão de como os contratos foram assinados, mas também pela total falta de preocupação com as populações atingidas por esses projetos. O relatório destaca, por exemplo, que, já em 2014, 40% da superfície do Peru se destinava a concessões para mineração, petróleo, gás e madeira, sendo que 96% desse território reservado a essas atividades estavam habitados por povos indígenas e comunidades locais. Para viabilizar esse agressivo plano de exploração mineral, a construção de hidrelétricas é um fator primordial.
O projeto de Chadín 2 é o primeiro de 20 hidrelétricas previstas no Rio Marañón, mas se encontra parado atualmente por causa dos escândalos, sendo que o governo peruano ainda não desistiu da proposta. Para completar, ainda existem mais dois projetos de usinas no Rio Marañón, a Rio Grande 1 e a Rio Grande 2, em contrato com a Odebrecht. Para evitar que os projetos saiam do papel, a população local já articula sua resistência, em movimentos como a Plataforma Interinstitucional Celendina (PIC) e a Frente de Defesa do Rio Marañón.