Na semana em que o Brasil relembra o início da ditadura militar com o golpe de 1964, o país alcança o ápice da pandemia de Covid-19. Esta que poderia ser uma mera coincidência no calendário histórico brasileiro transforma-se, sob a batuta de Bolsonaro, em mais uma ameaça às instituições democráticas brasileiras, e acende o sinal de alerta.
A sequência de eventos que tem se desenrolado nas últimas semanas mostra o evidente intuito de Bolsonaro de valer-se de medidas de exceção para gerir (e aprofundar), a seu gosto, as graves consequências da pandemia para a sociedade brasileira. Não bastasse a comprovada atuação do presidente no alastramento e agravamento do contágio, levando a índices alarmantes de mortes dia a dia, Bolsonaro deseja barrar a autonomia dos demais entes federativos na condução de medidas restritivas que possam mitigar a difusão do vírus. Seu anseio e ameaça de decretar Estado de Defesa ou de Sítio veio acompanhado de um aceno às Forças Armadas, mobilizando também o simbolismo da data – que costumeiramente remexe os brios autoritários de setores da sociedade brasileira.
A dança das cadeiras ministerial vista no dia de ontem abre dúvidas sobre a capacidade de Bolsonaro motivar a adesão das Forças Armadas aos seus desejos golpistas. Mas ela acende o alerta sobre o seu intuito de modo mais evidente do que já havia se visto nestes dois anos e três meses de governo.
A restrição de garantias fundamentais, típicas de estado de exceção, são capítulos da história brasileira que não aceitaremos vivenciar. A Justiça Global se levanta, neste momento, em memória de todas as vítimas da ditadura ,e em memória dos mais de 300 mil mortos desta pandemia. Nesta triste coincidência de datas, o país testemunha, novamente, um crime contra a humanidade protagonizado por seu chefe de Estado.
A saída da grave crise sanitária que se alastra pela sociedade brasileira só será possível com o reforço das instâncias democráticas. É essencial que os órgãos públicos ajam sob o signo da transparência, que os atos administrativos sejam pautados pelo interesse público e pela ciência. Vacina, renda básica e isolamento com direitos são, hoje, as palavras de ordem que sustentam qualquer sentido que se queira conferir à palavra democracia no Brasil.
Foto de capa: Correio da Manhã