Justiça Global e Raízes em Movimento repudiam massacre de 23 pessoas em operação policial realizada na Vila Cruzeiro: Queremos respostas do Estado brasileiro!
Na manhã de terça-feira, dia 24 de maio, o Complexo do Alemão e da Penha amanheceram com operações policiais feitas pelos agentes do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), pela Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), o que resultou em mais uma chacina. A operação que durou mais de 12h deixou 23 pessoas assassinadas e outras sete feridas.
Cada uma dessas 23 pessoas tiveram suas vidas retiradas por causa da prática racista do governo estadual, governado hoje por Cláudio Castro, que tem como prática/política o controle das vidas e do território favelado e periférico. Nos últimos anos, o mês de maio, que tem o dia 13 como dia nacional da denúncia do racismo, vem sendo marcado também pelo sangue derramado em chacinas promovidas pelo Estado por meio da ação de seus agentes, tornando ainda o marco do Dia das Mães como um dia doloroso para muitas famílias.
Em maio de 1995, por exemplo, mulheres foram estupradas e homens foram mortos durante a Chacina da Nova Brasília (também no Complexo do Alemão) executada pela Polícia Civil. Em 2004, 30 pessoas foram mortas sob a custódia do Estado na Cadeia Pública de Benfica durante uma rebelião. Em 2006, no estado de São Paulo, mais de 500 pessoas foram assassinadas por agentes do Estado no que ficou conhecido como os Crimes de Maio.
Em 2020, já durante a pandemia de COVID-19, 13 pessoas foram mortas durante operação das Polícias Civil e Militar também no Complexo do Alemão. Nove dias antes de completar um ano, 28 pessoas foram mortas no Jacarezinho durante uma operação da Polícia Civil. Na terça, mais uma chacina entrou para a história das “mais sangrentas” elaboradas e levadas a cabo pelo Estado brasileiro sob a justificativa da guerra às drogas.
Por cada vida arrancada pela violência do Estado, por cada vida aterrorizada vivendo em territórios negros das cidades brasileiras afirmamos que o silêncio não é uma opção. O terror imposto à vida nas favelas e periferias sob o argumento do enfrentamento ao crime não pode ser naturalizada e aplaudida em uma democracia, por mais frágil que ela pareça aos olhos de quem não encontra sequer a possibilidade de defesa.
Às mulheres, às negras em particular, que são a base da sociedade brasileira e que sofrem a violência nas favelas e periferias desse país enfrentando blindados e armamentos de guerra para proteger a vida e a dignidade, nossa declaração de solidariedade. Aos territórios negros e indígenas massacrados pelo terror da violência do Estado com suas máquinas de guerra, todo nosso apoio.
A Justiça Global e o Raízes em Movimento vêm atuando de maneira sistemática para o fortalecimento da democracia, denunciando situações sistemáticas de massacres na região do Complexo do Alemão. Ainda assim, apesar de toda a luta, apesar da vinda do Relator Especial da ONU para execuções sumárias, arbitrárias e extrajudiciais, Phillip Alston, após a Chacina do Pan em 2007, quando 19 pessoas foram assassinadas; apesar das determinações frutos da ADPF 635; o Estado brasileiro segue violando os direitos humanos a partir da atuação de suas forças militarizadas.
Diante desse triste histórico de militarização e massacre nas favelas do Rio, nós queremos respostas do Estado brasileiro, do atual governador do Rio de Janeiro e do Ministério Público Estadual e Federal, pois enquanto esses crimes continuarem impunes, mais vidas serão perdidas. Diante de tais ataques às vidas negras e faveladas, o silêncio não é uma opção para quem defende os direitos humanos.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil