A morte de uma companheira de luta é sempre um momento difícil, no qual nos deparamos com o irremediável. Vidas que fizeram tanta diferença, inspiraram tantas outras e que chegam ao fim de uma forma brutal. Na nossa trajetória, estivemos com Dorothy Stang, Maria do Espírito Santo Silva e também com Marielle Franco. Vereadora mais votada do Rio de Janeiro, Marielle era uma companheira com a qual atuávamos há anos, desde quando trabalhava na Comissão de Direitos Humanos da Alerj. Com ela, dividimos alegrias e tristezas, na certeza de que essa luta é essencial para as transformações que sonhamos. A notícia de sua execução, assim como a do motorista Anderson Pedro Gomes, nos choca, mas certamente não há de nos paralisar. Sabemos que não é isso que ela deseja. Precisamos estar nas ruas, nas redes, nos espaços de poder exigindo que sua morte não seja em vão. Esse é um compromisso público da Justiça Global, que estará ao lado de familiares, amigas/os e companheiras/os de luta.
«Quantos mais vão precisar morrer?» era o que questionava Marielle pouco antes de seu assassinato. Sabemos que o desafio posto é imenso, mas que essa última morte seja um momento de ruptura, de um fim dessa lógica que ceifa milhares de vidas como a de Marielle, negras, faveladas, LGBTs, defensoras de direitos humanos. Ainda não sabemos quem puxou o gatilho, mas é certo que Marielle incomodava o Poder, não apenas o institucional, mas todo aquele que com ele se mistura, se beneficia, criando uma máquina de mortes a serviço do interesse de poucos.
As lágrimas são necessárias para lavar, para velar nossa companheira. Entretanto, que não sejam confundidas com medo. Não nos cabe retroceder, abaixar a cabeça. Não podemos mais aceitar os retrocessos, permitir o que deveria ser inegociável. São vidas, histórias. Cada uma delas especial, únicas, que não podem ser esquecidas. A luta, agora, aumentará. Seguiremos com essa certeza.
Nós somos porque Marielle é
Continuará sempre sendo
Marielle, presente, presente, presente!