Operação Vingança no Alemão: Governo do Rio vitima 20 pessoas

Até quando as instituições de justiça fortalecerão a necropolítica no Rio de Janeiro?

Nesta quinta-feira (21/7), mais uma vez as moradoras e os moradores de favelas da cidade do Rio de Janeiro, desta vez no Complexo do Alemão, na Zona Norte, foram acordados por tiros em decorrência de uma operação truculenta da Polícia Civil em conjunto com a Polícia Militar. De acordo com a Ouvidoria da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, cerca de 20 pessoas foram assassinadas. Uma dessas, Letícia Marinho de Sales, foi baleada dentro do carro e socorrida pelos próprios parentes.

Sob ataque estatal, as favelas estão novamente sob a mira e os projéteis das polícias em ações ilegais. Desde a primeira pisada do coturno estatal nas favelas, o que ocorre a seguir é uma avalanche  de violações: pessoas tiveram suas casas alvejadas e/ou invadidas por policiais sem mandado de busca e apreensão, desrespeitando sua intimidade e atacando sua dignidade. Moradores relataram uso de mecanismos ilegais de execução sumária, como a Tróia, ou seja, invasão e ocupação das casas para emboscadas. 

Enquanto cerca de 400 policiais – com apoio de quatro aeronaves e dez veículos blindados –  foram mobilizados, trabalhadores e trabalhadoras foram impedidos de seguir sua rotina, a circulação de ônibus ficou interrompida no local. Alguns passageiros chegaram a ficar em meio aos disparos. Crianças e adolescentes não puderam ir para a escola. Duas unidades de saúde da região não funcionaram durante o dia.

Helicópteros com atiradores pioraram o clima de terror no complexo durante toda a manhã. Outras pessoas, algumas delas ainda na cama, foram atingidas de raspão ou por estilhaços. Ao longo do dia, os jornais repetiam imagens dos próprios moradores retirando corpos com lençóis para levá-los em carrocerias. 

São evidências da banalização da barbárie e de uma política de segurança pública que não pretende proteger vidas, mas atacar territórios negros. E esse retrato tem sido reiterado em sequências de operações policiais: ontem, foi na favela de Manguinhos; antes, no morro do Salgueiro; Congonha, Morro do 18… Somente no mês de julho, entre os dias 1 e 21, o Instituto Fogo Cruzado mapeou 86 tiroteios durante ações ou operações policiais na Região Metropolitana do Rio. Durante esse período, houve 5 chacinas nessas ações ou operações, que deixaram 20 mortos

Os inúmeros abusos cometidos pelas polícias parecem passar despercebidos pelo MPRJ. A omissão das instituições cria um clima de permissividade e suspensão de direitos nas favelas fluminenses. Ao permanecerem em silêncio, instituições do Sistema Judiciário estão assumindo um lado, já que a Constituição Federal de 1988 afirma que elas têm o dever de agir. A omissão do Poder Público é ação, ação de morte. 

As Vidas Negras na democracia brasileira só importam para quem atua na defesa intransigente dos direitos humanos, quando deveriam ser protegidas a todo custo, não só para a garantia de direitos formalmente garantidos, como para a reparação histórica dos processos de morte implementados pelas instituições do Estado.

 

Justiça Global

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