Um dos principais argumentos usados pela Prefeitura do Rio para a retirada dos moradores da Vila Autódromo, o impacto ambiental das moradias na Lagoa de Jacarepaguá, não serve como impedimento para as obras do Parque Olímpico, no antigo Autódromo de Jacarepaguá. A obra está levando a destruição da faixa marginal, com tratores derrubando árvores e aterrando parte da lagoa. Nem mesmo o projeto apresentado pelo consórcio faz questão de disfarçar essa degradação do meio ambiente, com uma ampla praça avançando sobre mata que deveria ser preservada. As evidências da destruição foram constatadas hoje em missão composta pela Justiça Global, o Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, os vereadores Renato Cinco e Babá e o deputado estadual Flávio Serafini.
Nas imagens é possível ver troncos e plantas em meio à terra que é arrastada pelas máquinas. Para os moradores da Vila Autódromo, que lutam há décadas por suas moradias, isso serve para deixar claro como a motivação da prefeitura para a remoção é política e financeira, uma vez que a área está em ampla valorização com a construção dos equipamentos esportivos e de hotéis e prédios de luxo pelo consórcio, que é formado pelas formado pelas empreiteiras Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken. «Eles afirmam que temos que preservar o meio ambiente e fazem algo desse tipo. Essa destruição tem que ser investigada pelo poder público e interditada o mais rápido possível. Aquela área era toda arborizada. Eu moro aqui há 22 anos e conheço bem aquela parte», disse Luis Cláudio Silva, um dos moradores que vem resistindo à remoção das casas.
A remoção da comunidade, além de representar a violação do direito à moradia, é também uma incoerência se comparada às propostas existentes para o local. Um projeto de urbanização da Vila Autódromo, feito pelos moradores em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostrou que era possível manter todas as famílias no local, com preservação da faixa marginal da lagoa e com muitos menos gastos que o pagamento de indenizações. O projeto, que ganhou o prêmio internacional de Urban Age Award, do Deutsche Bank, em 2013, não foi aceito pela Prefeitura do Rio.